Dicas de uma psicóloga para mães neste momento de pandemia.

O que é necessário preocupar-se e/ou ocupar-se nesse momento de Pandemia? Pensando no estresse que a proximidade com a morte nos traz e estimulada por colegas mães, decidi escrever e compartilhar algumas reflexões. Inicio com a questão da brevidade da vida, as notícias do cenário desse Covid-19, que diariamente nos lança nos braços da morte.

Naturalmente estaremos mais estressados, emocionalmente mais irritados, nervosos, ansiosos em busca de proteger nossa vida física e mental e de nossa família. O instinto de sobrevivência e a necessidade de salvar e proteger quem estiver ao meu lado ficam mais intensos. Por isso, técnicas de relaxamento são muito saudáveis. Quem sabe meditar, medita, quem sabe orar, ora, quem sabe dançar, dance, quem sabe cozinhar, cozinhe, quem pode plantar, plante, quem esqueceu o que sabe fazer para acalmar a alma e o espirito, para desligar os macaquinhos da cabeça, paciência consigo, mas busque se reencontrar. Surte se necessário de vez em quando, mas tente sempre buscar seu equilíbrio no final de cada dia.

A proximidade com as crianças pode nos ajudar, se tivermos muito claro em nós mesmos que eles estarão tão ansiosos quanto nós. Atitudes estranhas, irritação, regressões, voltam a fazer coisas que antes não faziam, e que da ansiedade por nada fazer aplacamos esse tédio com o uso de celulares, televisão entre outros.

Diante disto, ao invés de auxiliarmos nossos filhos, estamos exatamente lançando-os nos braços da ansiedade do vazio. Do vazio que precisa ser preenchido por algo. Mas será? Será que o vazio pode estar momentaneamente…vazio?… E tudo bem? A televisão, os jogos e recursos tecnológicos, por mais educativos e bem-intencionados que sejam, nunca substituem o silêncio necessário e saudável, ou a presença do olhar humano direto. Pessoas precisam de pessoas e por isso também é que nossa ansiedade e tristeza estão tão tocadas.

Vídeo aulas são importantes recursos que desenvolvemos, mas não devemos dar tanto peso para isso. Nisso, as escolas estão pensando. Os professores e especialistas aos quais até hoje confiamos, continuam lá. Elaborando o melhor, propondo o que de melhor eles têm. E não nos cabe agora julgar…ou cabe?… será?… Fica aqui a questão. Questionar o método e o sistema de ensino em meio à crise talvez seja mais contraproducente do que um meio de enfrentar o problema em si. Filhos precisam de nossa confiança. O resto, eles dão conta.

Além disso, e sem menosprezar o seu lugar, mas a educação formal é apenas um dos aspectos de desenvolvimento humano. Importante certamente, mas nesse momento de crise, de incerteza do amanhã, de incerteza de tudo, faz-se premente que olhemos para a humanidade, para outros lados do desenvolvimento humano. Neste momento, família, compaixão, proteção, auto cuidado são os temas que a grande escola divina parece que nos colocou. Escola esta que estamos todos frequentando pela primeira vez, com a privação de movimento, financeira, e de tantas outras coisas. Vivemos uma situação de guerra invisível…apavorante pensar que nosso inimigo é invisível aos olhos e em todo momento pode estar ao nosso lado, não? E que podemos leva-lo aqueles que amamos então?…Que difícil….

Se enquanto pais, nos sentimos privados e amedrontados, imagine nossos filhos! Somos espelhos para eles. Com uma vantagem: se estivermos conscientes, podemos nos redimir de nossos erros, de nos desculpar por nossas ansiedades e ensiná-los nessa jornada a serem pessoas mais resilientes que talvez nós mesmos.

A geração da televisão e da cobrança pela excelência na produção tem agora uma chance de cuidar de si não mais como uma criança, mas como um adulto. Mais maduros e certos de suas inseguranças e de seus limites.

Nenhum pai precisa se cobrar ser professor de seu filho. Esteja ao lado, mostre-se lá; presente naquilo que for necessário, mas se a intenção se ensinar como um exímio professor. Este ano será um ano rico em memórias, em todos os sentidos. Os ensinamentos teóricos talvez sejam recuperados, talvez não, mas a saúde mental de seu filho e a sua precisam ser preservadas. Pais que não escolheram a pedagogia como profissão não deveriam exigir-se serem excelentes professores da noite para o dia. Seja sincero com seu filho que talvez como advogada, você seja uma péssima professora e que quando as aulas voltarem sua professora estará lá; e se as aulas nunca mais voltarem, pelas mais diversas razões aqui bem claras, que o presente valeu a pena.

Estar junto com seu filho, errar junto, corrigir junto, aprender junto, almoçar junto, lavar roupa junto, limpar a casa junto, recuperar o tempo que perdemos, o tempo que o trabalho nos afasta, ver o que ele pensa, como come, como se comporta em momentos de estresse e cobrança. Isso vai ficar e se amanhã não existir, hoje terá valido a pena.

Isso não significa negligenciar totalmente os estudos e aprendizados. Não significa deixar para lá os estudos, quoi que, às vezes isso será necessário, mas sim RELATIVIZAR. Absolutamente tudo. Pensar “isso é necessário mesmo? ”, e se a resposta for sim, a segunda pergunta é “para quem? Para o meu ego ou para o desenvolvimento saudável de meu filho? ”. Se a resposta for para mim…então isso precisa ficar claro. Estamos exigindo algo nosso e não dele. Verdades vestidas amorosamente de verdades curam e não mentiras disfarçadas de verdades.

Há tempos temos observado pais ausentes da vida e da rotina de seus filhos; filhos institucionalizados, cuidados por empregadas, babás, pelo sistema pedagógico, por qualquer um que se ocupe das crianças que os pais não conseguem dar conta e com a melhor das intenções delegam seus cuidados em excesso aos “especialistas”. Imersos num sistema capitalista e consumista (sem juízo de valor ou julgamento aqui), ficam atolados e longe de seus filhos. O problema é que os filhos quando sentem a falta dos pais, eles manifestam essa falta nas mais diversas formas: comportamentos obsessivos, distúrbios alimentares, distúrbios de comportamento, distúrbios de sono e de aprendizagem. Distúrbios que as vezes precisam ser medicamentados, às vezes precisam ser humanizados e relativizados.

Se hoje conseguirmos ter mais paciência e relativizar nossos problemas e nossas demandas, nossos filhos nos serão eternamente gratos. Gratos pois terão grande parte de sua saúde mental preservada e fortalecida. É quando nos confrontamos com o limite da vida que damos valor a ela. Limites são saudáveis, quando vistos dessa forma. O isolamento social pode ser visto como uma prisão ou como a oportunidade de cuidar. Cuidar se si, do outro e de toda uma sociedade. Quando furamos esse isolamento sem as devidas precauções e questionamentos, estamos fazendo como um adolescente que busca no limite ver até a onde a vida vai… e o problema é que às vezes ela acaba num acidente pelo consumo excessivo e sem limites de álcool e drogas. Às vezes sobrevivemos, às vezes, não.

Quantas coisas nesse limite podemos aprender e apreender? Certamente muitas….Como um abraço…que cuidadosamente nos acalenta até que o medo passe. Até que, após um longo pesadelo, a noite termine e o sol apareça.

O sol irá voltar. Mas enquanto isso, o colo de nosso lar é nosso refúgio…nosso colo de mãe. E enquanto isso tudo não passar, daremos colo uns aos outros, em família. Juntos com aqueles que amamos. Pois no final…é o amor que fica. O resto…talvez…

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