brincadeira é coisa séria

Brincadeira é Coisa Séria – Desenvolvimento Infantil

O desenvolvimento infantil acontece em torno da brincadeira. Vygotsky, Winnicott, Piaget, já diziam que é neste espaço lúdico (brincar) que a criança vivencia o mundo que a cerca e aprende como este “mundo” funciona. A criança pode experimentar as situações do dia a dia desempenhando o “papel” que quiser e ganhar confiança para realizar aquilo que se deseja no futuro. A criança escolhe o personagem que quer ser, sem preconceitos e sem exigências, podendo experimentar diferentes situações.

Dando continuidade aos posts anteriores, conhecer sobre os benefícios e a importância do brincar da criança pode nos deixar mais seguros e confiantes nesse momento em que nossos filhos não estão frequentando as escolas presencialmente. Deixar que eles brinquem livremente, enquanto estamos cumprindo as demais atribuições da casa e do trabalho, contribui para seu desenvolvimento e amadurecimento. Se pudermos brincar junto, tanto melhor!!

O processo de desenvolvimento da criança acontece a medida que ela vai conhecendo o mundo e agindo sobre ele. Nessa interação entre sujeito e objeto, a criança vai assimilando informações condizentes com seu estágio de desenvolvimento.

O brincar faz com que a criança se desenvolva com mais identidade, autonomia, saúde, criatividade e sensibilidade além de melhorar sua disposição física. Desta forma, um papelão pode se transformar em uma casa ou um carrinho, com uma folha caída de uma árvore, é possível imaginar um barco navegando pelos 7 mares. Essa imaginação tão presente na brincadeira é muito saudável e necessária para o nosso crescimento e amadurecimento emocional. A criança ao brincar reproduz as experiências externas e internaliza esse “algo novo” que foi aprendido construindo seu próprio pensamento.

Vygotsky*, autor muito estudado na pedagogia e na psicologia, iniciou a discussão sobre o brincar e o brinquedo infantil em meados dos anos 80. Ele pontua que o brincar tem um amplo e importante papel na constituição do pensamento infantil. A ação da criança que imagina, que transpõe o objeto em si em função à sua brincadeira, que cria intenções no brincar, que imita e amplia as situações vividas neste brincar, está fazendo um treino para sua vida futura. Está contribuindo para seu desenvolvimento.

Existem brincadeiras em grupo, brincadeiras ao ar livre, brincadeiras que estimulam o desenvolvimento físico, estas transmitem para as crianças os valores da sociedade em que cada uma vive. Aprender as regras de um jogo, esperar a vez para jogar ou até mesmo lidar com a frustração de ser o último escolhido para o time de basquete, são as maneiras como as crianças conhecem e aprendem a conviver em sociedade.

Winnicott**, foi pediatra e psicanalista no pós-guerra. Se dedicou a entender a dinâmica mãe-bebê entre outros estudos. Para ele a brincadeira está relacionada à noção de transicionalidade. O brincar está na fronteira entre o mundo psíquico e o mundo socialmente construido da criança. É neste “intermediário” entre a realidade interna e a realidade externa da criança que o brincar acontece.

E o que isso quer dizer? Podemos entender que esse brincar se torna algo vital para seu desenvolvimento na medida que a criança, desde muito cedo, o bebê, experimenta uma sensação de que pode controlar tudo e que tudo é seu e funciona em torno dele. Quando a mãe tem uma relação de sintonia inicial com o bebê, estabelece-se um ambiente de confiança e o bebê brinca com a realidade.

Aos poucos este bebê acompanha a sensação de que sua brincadeira não acontece mais só em torno de si. A interação dos adultos que a cercam nesta brincadeira estabelece novas possibilidades entre o que é percebido pelo mundo interno e o mundo externo da criança, neste “campo intermediário”.

As brincadeiras intelectuais, por sua vez, são fortes aliados para a educação formal das crianças, não é difícil encontrar nas escolas este tipo de brincadeira. São jogos de palavras, quebra-cabeças, pergunta e respostas, ou jogos de estratégia que estimulam a criatividade e o raciocínio lógico, facilitando as diversas demandas exigidas pela escola e se acontece nas escolas, porque não podemos incentivar nossos filhos a fazê-las em casa?

O brincar cria um campo protegido para a criança escolher e se manifestar da maneira que desejar e com quem desejar, é um espaço de fantasia em que ela experimenta aquilo que mais tarde terá que desempenhar no mundo dos adultos. A criança trabalha com seus limites e suas emoções ao brincar. Ela pode simbolizar conteúdos difíceis que muitas vezes não consegue nem colocar em palavras ou que ainda não tem maturidade para procurar um adulto para conversar.

Mas será que damos condições para que nossos filhos possam brincar? A rápida transformação do mundo atinge também as brincadeiras infantis, e o momento que estamos atravessando, com a pandemia da COVID-19, nos faz estar atento para que a tecnologia atue a favor e não contra o desenvolvimento de nossos filho. Neste momento, estamos sobrecarregados com nossas tarefas e muitas vezes a internet parece uma solução.

Alternar tecnologia, leitura, brincadeiras de roda, jogos estratégicos e de tabuleiro, um balanço improvisado na sala de casa, dança, jogos musicais ou mesmo construção de seus próprios jogos parece ser mais interessante para o amadurecimento e saúde dos nossos pequenos.

Sim, brincar é coisa séria!

Núcleo Narravidas de Psicologia tem uma linha de atendimento dedicada a crianças e seus desafios até chegarem a fase adulta.

*VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Trad. José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

**WINNICOTT, D. W. O brincar & a realidade. Trad. J. O. A. Abreu e V. Nobre. Rio de Janeiro: Imago. 1975.

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