Acredito que a maior parte das famílias com filhos já ouviram falar sobre a medicalização infantil. Este é um assunto que divide opiniões entre aqueles mais conservadores e aqueles que seguem as tendências de nosso mundo moderno.
Pois bem o termo medicalização aparece na segunda metade do séc. XX e refere-se ao processo no qual problemas não considerados de ordem médica passam a ser vistos e tratados como problemas médicos.
Para facilitar a compreensão podemos dividí-los em casos de desvio de comportamento: loucura, alcoolismo, problemas alimentares (bulimia e anorexia) hiperatividade e dificuldade de aprendizagem; e os processos naturais da vida: sexualidade, nascimento, envelhecimento, tensão pré-menstrual, menopausa, etc.
A questão maior e mais controversa quando entramos no universo infantil, se dá em torno da medicalização dos desvios de comportamento. Sabe aquele menino mais ativo, que gosta muito de correr e pular, ou aquela menina que não para de falar? Então estes são possíveis candidatos a medicalização infantil.
Chamamos de desvios de comportamento toda conduta que destoa do que é socialmente aceito, e a medicalização acontece quando estabelecemos os limites do que é normal e daquilo que não é normal para cada comportamento. Desta forma, aquilo que era considerado normal em outras décadas pode ser considerado um desvio atualmente e nestes casos podemos então utilizar medicamentos para tratá-los.
Na infância os alertas de que algo está acontecendo “fora do normal” geralmente aparecem na escola. E isto fica ainda mais comum no período da alfabetização e do ensino fundamental.

Crianças que demoram um pouco mais a aprender as letras ou os números, que são mais agitadas e ativas ou questionadoras e que demandam mais atenção do professor, sempre existiram e estes casos eram resolvidos e acompanhados pelos pais e pela escola, mas o que está em jogo atualmente é que agora tais comportamentos passaram a ser vistos sob a ótica da saúde e portanto a avaliação médica e psicológica passaram a fazer parte do contexto escolar.
A hiperatividade é o campeão nos diagnósticos e avaliações infantis. Considerado um transtorno, o TDAH, engloba crianças muito ativas, impulsivas e distraídas que manifestam tanto a hiperatividade como a dificuldade em manter a atenção.
A medicação aparece como uma solução mais barata e mais fácil para pais e escolas que enfrentam este problema, uma vez que crianças atentas e mais calmas ajudam no processo de aprendizagem e na organização das crianças em sala de aula, além de ser um tratamento mais barato que uma psicoterapia por exemplo.
A medicalização infantil também é responsável por diminuir a responsabilidade social de pais e professores sobre aquele que é medicado, quando falamos da medicalização dos desvios sociais. Pois crianças que eram consideradas preguiçosas e/ou desobedientes por não acompanhar o aprendizado de seus colegas na escola ganham agora o título de doentes, ou melhor, crianças com transtornos psiquiátricos.
Se por um lado conseguimos diminuir o estigma daquela criança “lenta para aprender” através da medicação, por outro lado estamos tentando padronizar e normatizar as crianças às regras desta nova sociedade que não possui nem paciência e nem tempo para acompanhar uma criança que na maioria dos casos é apenas diferente dos demais e precisa de uma atenção maior em seu processo de desenvolvimento.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) se trata sim de uma doença biológica em que podemos encontrar causas neurológicas para o transtorno o que justifica a medicalização, mas ela se difere de doenças infecciosas, por exemplo, no seu diagnóstico onde não é possível a confirmação através de exames laboratoriais. Assim a conduta do profissional da saúde para a confirmação do diagnóstico envolve avaliação dos comportamentos relatados pelos pais e/ou pela criança, tornando difícil sua confirmação e posterior tratamento.
Uma pergunta devemos fazer a nós mesmos quando estamos diante desta situação: Será que meu filho possui mesmo uma dificuldade tão grande que mereça um medicamento para isto? Será que seu comportamento pode ser considerado um desvio de conduta?
Existem realmente casos que sim, que a medicação pode auxiliar uma criança em seu desenvolvimento, mas esta precisa ser a exceção. Eu entendo que a pressão social e escolar façam com que procuremos o mais rápido possível modificar o comportamento de nossos filhos e adequá-los às regras impostas pela escola e pela sociedade, mas podemos verificar e tentar muitas alternativas que podem ajudar antes da medicação.
Uma conversa franca com a escola, uma mudança de metodologia de ensino, psicoterapia infantil e/ou familiar, atividades lúdicas para a criança se sentir querida e amada, diminuir as expectativas que queremos de nossos filhos, evitar comparações entre as crianças, e mais tantas outras.
Pensem nisso!!
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